terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Dançando conforme a música

Nota: não uso as expressões "vexame", "zebra" e “azar do Celso Roth” neste texto.

Alguns dizem que é impossível dançar sem música. Dizem que é necessário ter alguma batida, algum ritmo, alguma sequência de notas musicais para que se possa balançar o esqueleto. Dizem, ainda, que existem regras para dançar, os chamados passos, e que quem não os executa com maestria é um dançarino ruim.

A dança do goleiro Kidiaba tem tudo para se popularizar, se tornar um viral, um símbolo do Mundial de Clubes da FIFA, mesmo que os africanos do Mazembe não terminem a competição como campeões. Podemos dizer que todos se lembram de que o símbolo da última Copa do Mundo de seleções, na África do Sul, foi a vuvuzela, independentemente de os Bafana Bafana ou qualquer outra seleção do continente ter sido campeã.

A torcida africana não parou por um minuto de dançar, pular, cantar e de tocar vuvuzelas, é claro. Já os muitos gaúchos presentes logo ficaram apáticos após o primeiro gol do Mazembe, marcado por Kabangu. E foi exatamente sem música e sem passos coordenados de música que o Internacional de Porto Alegre perdeu e foi eliminado do Mundial de Clubes da FIFA, antes da grande final.

Os gaúchos dançavam conforme a música dos africanos e, depois da (quase) correria em busca do empate, o passo final foi um chute certeiro de Kaluyituka, no canto do goleiro Renan. O placar no Estádio Mohamed Bin Zayed marcava 2x0, aos 40 minutos do segundo tempo, para a frustração da torcida colorada e, podemos dizer, alegria da torcida gremista.

Bjorn Kuipers, o árbitro húngaro, apitou o final do espetáculo nove minutos depois, aos 49. E, o time congolês, que já havia comemorado, e muito, a já surpreendente vitória por 1x0 contra o Pachuca, do México, manteve alegria e comemorou ainda mais. O goleiro Kidiaba repetiu a sua (já característica) dança – e foi acompanhado por um dirigente da equipe, enquanto os outros jogadores corriam pelo campo e dançavam em frente à torcida africana presente. Kaluyituka, autor do segundo gol, tirou sua chuteira direita e não parava de mostrá-la para as câmeras do mundo inteiro.

Mais do que jogadores com cabelos “diferentes”, os africanos do Mazembe provaram para o mundo (para a alegria da FIFA) que não é só de Europa e América do Sul que vive o Mundial de Clubes. Contrariando o que este blogueiro escreveu ontem e o que quase o mundo todo pensava, o time africano pode ser o primeiro campeão não europeu ou sul-americano do Mundial. Agora, o Mazembe aguarda o vencedor de Internazionale de Milão e Yeongnam, da Coreia do Sul.


Não havia música saindo por nenhum dos alto-falantes do estádio de Abu Dhabi, em momento algum da partida entre Internacional e Mazembe. Não houve também regras, ou passos certos. O que se viu nos Emirados Árabes Unidos foi apenas uma prova de que não é impossível dançar sem música e de que não é preciso ser um bom dançarino para ter uma dança famosa. O Internacional que o diga.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Oito vezes campeões, ou não

Atenção, torcedor sãopaulino e flamenguista. Você, que se vangloria das conquistas de seu time, do hexacampeonato brasileiro, terá que tomar cuidado ao ver algum palmeirense ou santista na mesma roda de bar, de hoje em diante. Ou não.

A Confederação Brasileira de Futebol decidiu, hoje, no dia 13 de dezembro de 2010, unificar os títulos da Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa, competições nacionais realizadas de 1959 a 1970. Isso significa que o Fluminense ganhou dois títulos brasileiros em apenas um mês, o de 2010 e o de 1970. Ou não.

Rodrigo Paiva, o assessor de imprensa – e voz – da CBF pediu a todos que esperem. Seu chefe, o presidente da entidade – e do mundo – Ricardo Teixeira, está em viagem de negócios no momento, em Abu Dhabi, no Mundial de Clubes da FIFA. Afinal, a presença dele é imprescindível para o bom andamento do torneio nos Emirados Árabes Unidos.

Aliás, o Mundial só vale a partir de 2000. Será que um dia os outros títulos serão reconhecidos? Vale lembrar que, desde que a FIFA começou a reconhecer os títulos mundiais dos clubes, colocando todos os continentes na disputa, o campeão sempre foi (e dificilmente não será) um europeu ou um sul-americano.

Agora, só precisamos ter um pouco mais de paciência.Tudo depende do sinal de positivo, do “Ok” de Ricardo Teixeira. Basta ele voltar ao Brasil, ou fazer uma ligação para Rodrigo Paiva, dizendo “manda bala”, para que Santos e Palmeiras se tornem oito vezes campeões brasileiros. Ou não.

Imagine, por exemplo, um pai explicando a seu filho, que Pelé jamais foi campeão brasileiro, sendo que o Santos “conquistou” o Brasil seis vezes. Com razão, as torcidas de Santos e Palmeiras fazem a festa. Sem razão, as outras torcidas reclamam. Qual o problema de títulos conquistados em campo serem reconhecidos?

Aparentemente, tudo normal, já que não havia Superior Tribunal de Justiça Desportiva na época. Talvez o problema seja só o tempo. Afinal, demorou 40 anos para que a CBF olhasse para trás e visse que o futebol nacional já existia antes de 1971.

Acho que já éramos tricampeões do mundo em 1970. Ou não?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Feuer!

Fui ao Via Funchal nesta terça-feira, 30/11, na expectativa de ver duas coisas. Primeiro, o show dos malucos do Rammstein, obviamente. Em segundo lugar, eu queria ver fogo. O fogo que eles usam em seus shows, tão conhecidos por serem verdadeiros espetáculos pirotécnicos.

Criei uma expectativa enorme para ver os caras tocarem no Brasil quando assisti o DVD "Volkerball", mas senti uma certa insegurança, já que o Via Funchal é um lugar fechado. Pensei: "Esses caras vão só fazer um show, e pronto. Sem fogo." No entanto, para o bem da nação, eu me enganei em meus pensamentos e o Rammstein subiu ao palco munido de tudo o que usa em seus shows pela Europa.

O nome da banda foi entoado em incrível uníssono e altíssimo volume no refrão da primeira música, Rammlied (RAMM-STEIN!). Ouso dizer que não havia uma voz silenciada naquele momento e não havia um par de pernas estático no chão.

Muitos não entendiam uma palavra sequer das músicas cantadas em alemão, mas gritavam sem hesitar. "Sterben!", do refrão de Waidmanns Heil, é um exemplo. A música trouxe fogos de artifício e fumaça, muita fumaça - apenas uma prévia do que estava por vir.

Uma nuvem rapidamente tomou conta do Via Funchal, mas ninguém reclamou. Talvez estivesse um pouco difícil de se respirar, mas nada que tenha atrapalhado a diversão de todos nós, os fãs presentes. Fomos ainda mais ao delírio com a explosiva Feuer Frei, da trilha sonora do filme (não menos explosivo) Triplo X, que trouxe o tão desejado fogo à casa.

O único “descanso” para os fãs, foi durante a linda Frühling In Paris, que apresenta, em seu refrão, palavras da música “Non, je ne regrette rien”, da cantora francesa Edith Piaf. Foi uma recarga de baterias necessária, mas que não deixou ninguém se desanimar, até porque, na sequência, viria um dos momentos mais esperados da noite.

Mein Teil faz referência a um caso curioso e macabro de canibalismo ocorrido na Alemanha (clique aqui para saber mais, se tiver estômago forte - e não, não há imagens no link). Não por menos, o vocalista Till Lindemann se veste de açougueiro, com um avental sujo de sangue e um microfone com uma faca pendurada, enquanto o tecladista Flake é a vítima, literalmente assado num imenso caldeirão - mais fogo!

Flake, aliás, se mostrou um show à parte durante toda a apresentação da banda, dançando, correndo pelo palco e, obviamente, tocando seu teclado. Na música Haifisch, Flake subiu em um bote, que navegou por sobre o público, enquanto ele mesmo dava as direções e mostrava uma bandeira do Brasil, dada por um fã.

Os alemães, ótimos no palco, mostraram-se frios, e a primeira intervenção de Till com a plateia foi na histórica execução de Du Hast. "Más fuerte!", disse o vocalista, enquanto todos gritavam: "Du, Du Hast. Du Hast Mich", talvez até sem saber o que queriam dizer, novamente, mas sem se importar. A música foi marcada por mais fogo, e fogos de artifício passando por cima do público, por meio de uma corda pendurada no teto (nota do autor, que pulava feito um louco: sensacional!).

A polêmica Pussy merece um parágrafo à parte. A pornografia se aliou à empolgação e a preservativos inflados voando, caracterizando um momento único, digno de dizer "tirem as crianças da sala", quando o baterista Christopher Schneider subiu em sua cadeira empunhando um pênis de borracha, com fogos de artifício. No último refrão da música, uma chuva de papel picado encerrou o setlist do Rammstein antes do bis.

Sonne, Haifisch e Ich Will teoricamente terminariam o show, mas nós queríamos mais. Pelo menos mais uma música. "Te Quiero Puta!", "Te Quiero Puta!", era o coro. E o Rammstein voltou ao palco para um final inesquecível, cantando em espanhol. Till não teve muito trabalho em Te Quiero Puta, já que cantamos, e muito, durante a música inteira.

Pontualmente, à meia-noite, com letras em alemão, meio em inglês, meio em francês e até em espanhol, além de fogo - muito fogo - e fumaça - muita fumaça, o Rammstein deixou o palco, após se ajoelhar para o público paulistano, e dizer "muito obrigado, viva o Brasil!".

Seria o clichê dos clichês dizer que o Via Funchal pegou fogo, mas foi a mais pura verdade. E eu nem precisei entender o que os caras estavam falando...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Com a nobreza de um Sir

nota: foi extremamente difícil escrever esse texto, já que ainda não inventaram alguma palavra que possa descrever com precisão o que aconteceu no Morumbi no dia 22/11.

No topo do estádio do Morumbi, na última fileira da arquibancada laranja, a vista do público era perfeita, enxergava-se tudo e todos. Do palco, nem tanto, mas não menos sensacional e impressionante. Foi mais do que suficiente para enxergar aquele tiozinho de suspensórios de 68 anos, e tudo o que ele foi capaz de fazer.

“Roll up for the Mystery Tour!” Foi assim que Sir Paul McCartney começou a brincadeira em sua segunda noite de show em São Paulo (diferentemente da noite anterior e de Porto Alegre), para mais de 60 mil fãs, de todas as idades, como bem visto em inúmeras reportagens da TV nos últimos dias.

A Rede Globo, inclusive, transmitiu a primeira noite no domingo, pós-Fantástico, não sei com qual foco, ou mesmo se passaram o show na íntegra. Claro, não foi a mesma coisa do que assistir ao vivo, como testemunha ocular. Desta maneira, talvez seja pertinente dizer: foi um dos maiores dos shows de todos os tempos.

Paul tocou baixo, guitarra, violão, piano, bandolim e ukulele, em um setlist de 37 músicas, com clássicos de sua carreira solo, dos Wings e, obviamente, dos Beatles. Um espetáculo, no sentido mais literal da palavra, com quase três horas de duração.

O “tiozinho de suspensórios” simplesmente não parava no palco. Cantou, pulou e, acompanhado de uma “discreta“ cola, conversou, e muito, com os fãs, em um português bem claro, para o delírio de todos.

Melhor do que falar de cada música ou dizer o setlist completo é citar (até porque é impossível descrever) alguns grandes momentos, como o estádio tremendo em “All My Loving” ou a dança do baterista em “Dance Tonight”. Vale lembrar, também, os “enormes” momentos, como a dança de 60 mil pessoas em “Obladi Oblada” e as homenagens a John Lennon e George Harrison, com “Here Today” e “Something”, respectivamente.

Todos já sabiam o que vinha para o final, só não sabiam a ordem – com exceção daqueles que já haviam assistido à primeira noite na TV Globo.

Foram executadas, nessa ordem, “A Day in the Life/Give Peace A Chance”, “Let It Be”, “Live And Let Die” – um espetáculo à parte: se Paul subisse no palco, tocasse essa música e fosse embora, seria suficiente para deixar várias pessoas felizes por meses – e “Hey Jude”, uma das mais aguardadas da noite, com o famoso coro do final cantado não apenas em uníssono, mas por homens e mulheres em separado, como regeu Sir Paul McCartney.

Paul sai do palco e volta, carregando uma bandeira brasileira, para o primeiro bis, com Day Tripper, Lady Madonna e Get Back. Muitos já deixavam o Morumbi, pensando que o espetáculo havia terminado e não viram o segundo bis, com Yesterday, Helter Skelter (nota do autor: PQP!) e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band/The End.

Os preços foram abusivos e a organização ao redor do estádio não foi a melhor, mas o que se viu no palco, compensou, pelo menos para cada pessoa presente no Morumbi nas noites dos dia 21 e 22 de novembro de 2010. Todos batiam palmas incessantemente, por aproximadamente três horas e Paul McCartney provou porque é mais do que “apenas” um dos maiores artistas de todo os tempos, apenas agradecendo, ao final de cada música como se fosse a última, com a nobreza de um Sir.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vencendo de virada, na vida e na quadra

por Luiz Henrique Ferreira e Gabriel Nunes, como parte da reportagem "Volta por Cima", para a Universidade Anhembi Morumbi


Aos 17 anos, Rogério Camargo foi vítima de um acidente de moto e teve a perna esquerda amputada. Hoje, ele tem 34 anos, trabalha em uma loja de automóveis, é casado, tem uma filha e um filho e ainda luta contra o preconceito, desde o acidente.

O que ninguém sabe quando vai à loja onde Rogério trabalha é que ele já disputou duas finais parapan-americanas de voleibol sentado e foi campeão uma vez.

Com a ajuda do esporte, Rogério se colocou de volta na sociedade, mas ainda tem que trabalhar para se sustentar. Diferentemente dos jogadores seleção da masculina eneacampeã mundial, que são bancados pelos clubes onde atuam, os paraatletas não recebem para jogar, treinam e jogam por prazer, mas gostariam de ter mais visibilidade, a ponto de viver pelo esporte.

Rogério joga pelo Cruz de Malta, pelo qual já foi tricampeão brasileiro, tetracampeão paulista e bicampeão do torneio Sérgio Del Grande – organizado pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro. Para ele, “o vôlei é maior que o trabalho. É uma válvula de escape, uma terapia, uma volta para a sociedade, uma superação. Aqui, eu vejo os meus amigos, esqueço os problemas da vida e almejo competições.”

Com a ajuda do esporte, Rogério diz ter uma nova família nos treinos, além da que tem em casa. “Quando nos juntamos eu, o Wellington, o Renato, o Deivisson e o Giovani, somos invencíveis. Ninguém ganha da gente.” Não é por menos, os cinco fizeram parte do elenco campeão parapan-americano de 2007.

De volta à cidadania

Wellington Platini, de 25 anos, citado por Rogério, é outro exemplo. Hoje, é jogador do Cruz de Malta, da Seleção Brasileira de voleibol sentado e office boy em uma clínica médica. Um exemplo de garra, determinação, força e, acima de tudo, de superação de adversidades.

Aos 19 anos, o esporte de Wellington era o futebol, mas o destino proporcionou um capítulo triste e decisivo, que não permitiria mais que ele jogasse. “O acidente foi de moto. Eu tava passando num cruzamento, onde o ônibus estava tampando a visibilidade, o cara saiu do cruzamento e me pegou”, descreveu. O choque comprometeu as vias arteriais da perna direita dele, que teve de ser amputada.

O vôlei entrou na vida do jovem três meses após o acidente, por meio de um atleta que já praticava o voleibol sentado e o convidou a conhecer a modalidade, o início de um capítulo de recuperação na vida de Wellington.

“Eu tive que aprender a jogar voleibol e a minha dificuldade, no começo, foi tudo, toque, manchete, como qualquer outro esporte que você está aprendendo. Mas hoje, é o que eu mais gosto de fazer”, afirma o atleta, descrevendo o seu início na modalidade que pratica há cinco anos. Porém, ele aprendeu. E como aprendeu. Após um ano e meio jogando pela equipe Cruz de Malta, de São Paulo, foi convocado para a seleção brasileira júnior e hoje em dia é integrante da seleção principal do Brasil.

Graças ao voleibol, Wellington conhece mais de vinte países, disputou as paraolimpíadas de Pequim, em 2008 e foi campeão parapan-americano no Brasil, em 2007, derrotando os Estados Unidos na final, título que ele considera o momento inesquecível e mais marcante de sua carreira no esporte, pelo menos até agora.


“O esporte me trouxe de volta a cidadania. Mudou a minha vida completamente, a amizade, o comportamento, me fez dar mais valor à vida, aos amigos e à família. O esporte só proporciona coisas boas”, completou Wellington.

O esporte ainda não é profissional

São seis jogadores de cada lado, com rotação de posições a cada ponto conquistado. O jogo é em formato “melhor de cinco sets” e o princípio fundamental é muito simples: não deixar a bola cair na sua quadra, mas fazer com que ela caia na quadra do adversário. Tudo isso, com três toques apenas, de jogadores diferentes.

Com apenas algumas regras diferentes, como poder bloquear o saque, e altura da rede e tamanho da quadra menores, temos uma “nova modalidade”: o voleibol paraolímpico, ou vôlei sentado. A equipe masculina do Brasil foi campeã parapan-americana no Rio de Janeiro, em 2007, vencendo, de virada, os Estados Unidos na final.

No entanto, o esporte encontra dificuldades que a modalidade tradicional não enfrenta. As menores quantias de investimento, dificuldades no transporte dos atletas e a conciliação da prática do esporte com o trabalho de forma paralela são os fatores que, segundo Fernando Guimarães, técnico da equipe Cruz de Malta, de São Paulo, e irmão de José Roberto Guimarães, técnico da seleção brasileira feminina de vôlei, impedem o crescimento do esporte no Brasil.

“A coisa não tá profissional ainda”, diz Fernando, quando o assunto são as condições que regem a forma de organização das competições de voleibol sentado no País. As dificuldades apontadas por Guimarães fazem com que as competições sejam divididas em etapas, com os times chegando a realizar três jogos no mesmo dia. “A gente tem que fazer por etapas. Então, num sábado você faz dois, três jogos, pra poder otimizar o tempo, porque custa e as pessoas trabalham”, explica o treinador.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Rodada de domingo no Brasil

O time vermelho é do Rio Grande do Sul, mas o time azul é mais querido na Região Sul.
Já o time azul é de São Paulo, mas o time vermelho é mais querido na Região Sudeste.

Os dois times se atacam, como num clássico regional. Há mídias a favor de um e mídias a favor do outro. Não há defesa, só ataques.

Para quem eu torço se nem os torcedores locais acreditam em seus times?
Para quem eu torço se a mídia tem opinião, quando não deveria? Aliás, onde está o jornalismo imparcial?

As pessoas fazem propaganda gratuita, divulgando cada um o seu time e atacando o outro, é claro...

...Mas vamos entrar na realidade. Afinal, o mundo não é só feito de futebol.

Dilma é do Rio Grande do Sul, mas Serra vai melhor nas pesquisas eleitorais da Região Sul.
Serra é de São Paulo, mas Dilma vai melhor nas pesquisas eleitorais da Região Sudeste.

Os dois candidatos se atacam, mais do que Corinthians e Palmeiras, Grêmio e Internacional e etc. Há mídias a favor de um e mídias a favor do outro. Não há propostas, só ataques.

Em quem eu voto se nem os eleitores locais acreditam em seus times?
Em quem eu voto se a mídia tem opinião, quando não deveria? Aliás, onde está o jornalismo imparcial?

As pessoas fazem propaganda gratuita, divulgando cada um o seu candidato e atacando o outro, é claro...

Mudou alguma coisa?

Faltam três dias para as eleições e há mais de 10% de eleitores indecisos ou com intenção de voto branco ou nulo. Eleitores, estes, que podem virar o placar atual das pesquisas ou aumentar a vantagem, transformando-a numa goleada.

Mas estamos na realidade. Não estamos falando de futebol, em momento algum, não é mesmo? O time azul e o time vermelho fazem o jogo de domingo, que não é válido pelo Campeonato Brasileiro, que terá rodada finalizada no sábado, mas, sim, pelo Brasil.

Serão mais de 100 milhões de jogadores, sem número certo para cada time. Qual será o resultado?

sábado, 23 de outubro de 2010

Quando a música e o esporte se encontram

Tudo começou em um feriado católico: dia 1º de novembro, o mundialmente conhecido “Dia de Todos os Santos”, “All Saints Day”, em inglês. O ano era 1966 e ainda faltavam quatro anos para a fusão das duas ligas que comandavam o futebol americano na época, a American Football League (AFL) e a National Football League (NFL).

Muitos anos antes disso, em 1896, uma música foi composta para ser e celebrar o All Saints Day, já citado feriado de todos os santos, e cinco anos mais tarde, a cidade de New Orleans viu um de seus heróis do jazz nascer: Louis Armstrong. A história da tal música se amarra com a de Louis em 1930, quando o cantor transformou o até então hino gospel “When the Saints Go Marching In” em uma lenda.

E já que a proposta do blog é falar sobre música e esporte, vamos juntar as duas coisas nesse post, então, justamente como a história fez.

Voltemos a 1966, quando tudo isso se cruzou. New Orleans era (ainda é) a cidade do jazz, casa de Louis Armstrong e buscava o seu lugar na liga profissional de futebol americano, que vinha se popularizando mais e mais com o passar dos anos e com a possibilidade de uma união entre as duas ligas que comandavam o esporte. O nome do time da cidade seria, portanto, uma questão de lógica.

Armstrong gravou When the Saints go Marching In e o anúncio da formação da equipe de futebol americano de New Orleans havia sido adiado em uma semana, para que fosse feito no All Saints Day. Aquele Dia de Todos os Santos ficou conhecido por algo a mais: em 1º de novembro de 1966, nascia o New Orleans Saints.

A cidade do Jazz, enfim, tinha o seu time no esporte mais popular dos Estados Unidos, mas os Saints eram apenas um time mediano. A equipe mal chegava nos 50% de aproveitamento durante as temporadas da já unificada NFL até 1987, ano da primeira chegada dos Saints aos playoffs.

 O New Orleans Saints era apenas mais um time na liga, alternando performances boas e ruins, com ênfase nas ruins. Até que, em 2005, a história da equipe mudou. A pré-temporada dos Saints começou com uma vitória sobre os Patriots fora de casa e duas derrotas em casa, no Superdome, para os Seahawks e para os Ravens.

A derrota para a equipe de Baltimore foi a última partida disputada no Superdome em 2005, já que dois dias após o jogo, o furacão Katrina passou por New Orleans, deixando milhares de desabrigados, mais de mil mortos, quase todos sem energia elétrica e condições de saneamento básico. A princípio, o estádio dos Saints foi usado como abrigo para 15 mil pessoas, número que subiu para 20 mil em um dia.

Em 31/8, as condições pioraram. Os arredores do Superdome estavam completamente inundados e, mesmo com a ordem de evacuação dada pelo governo, o número de pessoas no estádio aumentou para 25 mil. Após o caos e uma mega-operação que durou até o dia 4/9, todos os abrigados no Superdome foram evacuados e o estádio, interditado.

Os Saints mandaram seus jogos de maneira itinerante, em diferentes estádios, como o Alamodome em San Antonio e o Giants Stadium, de Nova York. Claramente afetado pelo Katrina, o time de New Orleans não foi bem e obteve 3 vitórias e 13 derrotas em 2005.

Um ano depois, com a cidade sendo lentamente reconstruída, a pré-temporada foi realizada toda fora de New Orleans, mas para o delírio da população local, todos os jogos em casa da temporada 2006 seriam no Superdome.

O resultado foi simplesmente incrível. Todas as partidas tiveram lotação máxima, sendo que a primeira, contra o Atlanta Falcons, bateu todos os recordes de audiência da ESPN no mundo até a época. Além das 70.003 pessoas presentes ao Superdome, mais de 10 milhões de espectadores assistiram ao jogo pela TV, que contou com apresentações de Green Day e U2. Além disso, os Saints chegaram à final da NFC pela primeira vez na história, perdendo para o Chicago Bears, há um jogo do Super Bowl.

A boa campanha alavancou a venda de ingressos para as temporadas 2007 e 2008 e o Superdome esteve praticamente lotado em todos os jogos, por dois anos. O fato mais curioso é que a cidade de New Orleans estava com aproximadamente 300 mil habitantes a menos do que antes do Katrina, mas o público no estádio só crescia. Se nas arquibancadas o resultado era ótimo, e nas ruas todos estavam torcendo pelos Saints, sempre ao som de When the Saints Go Marching In, tocado pelas inúmeras bandinhas de jazz de rua da cidade, em campo, o time não foi bem. No entanto, na temporada de 2008, uma “nova” esperança apareceu: o quarterback Drew Brees.

Mesmo com a campanha de 8 vitórias e 8 derrotas, Brees ficou apenas a 16 jardas de bater o recorde de Dan Marino de 5084 jardas conquistadas com passes em uma só temporada. O quarterback já estava em New Orleans desde 2006, mas despontou mesmo a partir de 2008. Em 2009, veio a consagração máxima, para Brees, para os Saints e para New Orleans.

O começo da temporada foi inacreditável: 13 vitórias e nenhuma derrota. Depois, três derrotas nos últimos jogos da temporada regular, mas a classificação para os playoffs veio, juntamente com a melhor campanha da NFC. Da mesma maneira que em 2006, os olhos do mundo estavam sobre os Saints.

Desta vez, a equipe foi além de onde tinha parado e derrotou Arizona Cardinals (45-14) e Minessota Vikings (31-28, na prorrogação) para chegar ao título da NFC e ao tão sonhado Super Bowl XLIV, que seria disputado contra os multicampeões, Indianapolis Colts.

O Sun Life Stadium, em Miami, foi o palco da partida, responsável pela maior audiência da história da televisão mundial. Conforme já dito, os olhos do mundo estavam sobre os Saints, o time ressurgido das cinzas, que uniu novamente uma cidade devastada por um furacão e provou que o esporte é uma excelente “terapia”.

No primeiro quarto, um massacre dos Colts: 10-0. No segundo, dois field goals para os Saints: 10-6. Após o intervalo, no terceiro quarto, um genial onside kick (veja aqui) fez com que Peyton Manning não tivesse a bola em suas mãos. Com isso, Drew Brees lançou para Pierre Thomas marcar o primeiro touchdown dos Saints. Na sequência, os Colts anotaram mais sete pontos, com uma corrida de quatro jardas de Joseph Addai, e os Saints devolveram com outro field goal de Garrett Hartley: o placar marcava 17-16 para o time de Indianapolis.

No último quarto, Drew Brees comandou a continuação da reação dos Saints, se puder ser chamada assim, com um passe para touchdown de Jeremy Shockey e um passe para uma conversão de dois pontos de Lance Moore, que fez com que os Colts precisassem de um touchdown mais a conversão de um ponto para empatarem o jogo, ou de dois, para vencerem.

No entanto, Peyton Manning foi interceptado por Tracy Porter, que retornou 74 jardas para mais um touchdown, histórico (o vídeo diz mais do que as palavras). Placar definido no Sun Life Stadium: 31-17. Os Saints chegaram ao topo da NFL em 2009, sob os olhos do mundo inteiro.  Brees foi escolhido o MVP (jogador mais importante) do jogo e, para muitos, a equipe representou o ressurgimento de New Orleans após o Katrina.

Para comemorar, muito simples. Adivinhem só?

Novamente, When the Saints Go Marching In (veja um exemplo aqui). Apesar de tudo o que aconteceu, tanto na história do esporte, quanto na música e, principalmente, durante a reconstrução pós-Katrina, New Orleans e os Saints nunca deixaram suas raízes de lado. O mundo inteiro viu quando a cidade foi devastada e quando ressurgiu, no Super Bowl XLIV.

E tudo começou na cabeça de um maluco que deu, ao time de futebol, o nome de uma simples música...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Lucros e dividendos no Centenário do Corinthians

Após perder o técnico Adílson Batista no último final de semana na derrota para o Atlético-GO, o Corinthians perdeu mais um jogo, o sexto seguido sem vitória, para o Vasco, por 2x0. Com isso, o time do Parque São Jorge se mantém na terceira posição e não se “aproveita” do jogo a menos que tinha.

A partida realizada hoje foi válida ainda pelo primeiro turno, pela 18ª rodada, juntamente com Santos 1x0 Internacional, pela 13ª. Na ocasião, o time gaúcho estava disputando a Libertadores da América, e viajaria para o México, para o primeiro jogo da final, contra o Chivas. Por isso, o jogo foi adiado.

Já o Corinthians, estava no auge das comemorações pelo seu Centenário – a rodada foi realizada entre os dias 1º, quarta-feira e 2, quinta-feira. Em vez de jogar uma “partida festiva”, com ingressos possivelmente mais baratos e uma festa no estádio, a diretoria de marketing do Timão preferiu armar uma grande festa na virada da noite de terça para quarta-feira, no Vale do Anhangabaú.

Foram mais de cem mil corintianos presentes, sem contar artistas, jogadores e comissão técnica. Um verdadeiro sucesso. No dia seguinte, pela 18ª rodada do Brasileirão, o Corinthians teve uma folga, para se recuperar e/ou curtir mais a festa. Enquanto isso, o Cruzeiro vencia o Flamengo, por 1x0 e o Fluminense empatava com o Palmeiras, por 1x1 – em um jogo dramático, com empate palmeirense nos acréscimos.

Ou seja, os adversários diretos marcaram pontos, enquanto o Corinthians festejava e o torcedor, também. Confira como estava o Brasileirão na época, até a 17ª rodada:

1-Fluminense: 36 pontos
2-Corinthians: 34 pontos
X-Cruzeiro: 19 pontos

Até então, o Cruzeiro era um time em ascensão, enquanto Fluminense e Corinthians brigavam feito cão e gato pela liderança, em uma bela batalha. O Timão folgou na rodada do Centenário, continuou jogando bem e abriu até alguns pontos de vantagem sobre o Tricolor carioca, tudo isso com um jogo a menos.

Voltemos ao dia de hoje, 13/10/2010. O Cruzeiro deixou de ser um time em ascensão, passou pela fase de ser um adversário direto e agora é o líder do campeonato, com dois pontos de vantagem para o segundo colocado, Fluminense, que luta contra os desfalques e o jejum de gols do artilheiro Washington.

O Corinthians começou a “rodada” na terceira posição, com chances de chegar ao primeiro lugar se vencesse o Vasco. No entanto, em melhor momento, o time carioca não deu chances ao paulista, e venceu por 2x0. Desfalcado, sem técnico e sem muito ânimo em campo, o Corinthians não pareceu lutar pelas chances, inclusive.

Cansado pela viagem com a Seleção Brasileira, o destaque do time, Elias, teve atuação apagada. Enquanto isso, outro destaque da campanha corintiana é mais um dos reforços no departamento médico de Itaquera: Bruno César se junta a Dentinho, Jorge Henrique, Ralf e Ronaldo (que disse que vai jogar contra o Guarani, no final de semana). O técnico interino Fábio Carille não teve muitas opções para escalar o time e entrou em campo com Souza e Iarley no ataque, o que não agradou a muitos torcedores.

E se o Corinthians tivesse jogado no dia 1/9? Ronaldo provavelmente não estaria em campo, mas Bruno César, Dentinho, Jorge Henrique, Ralf, Chicão e Elias estariam, em plenas condições, inclusive. Valeu a pena todo o lucro obtido pelo Timão com o Centenário? E o Campeonato Brasileiro, para onde vai, agora que o número de jogos é o mesmo para todos e os resultados próprios não são suficientes para o título?

A vaga na Copa Libertadores da América ainda está próxima, já que Santos e Internacional são, respectivamente, quarto e quinto colocados e já estão dentro da competição intercontinental, graças aos títulos da Copa do Brasil e da própria Libertadores.

A verdade é que desfalcado ou não para o jogo contra o Guarani, as chances do Corinthians contra o Vasco em 1/9 seriam maiores do que foram hoje. A Fiel estaria a postos, apoiando o time e pronta para comemorar o Centenário com uma vitória. Com festa no Anhangabaú no dia 31 de agosto ou não, a festa no estádio seria a mais esperada.

Após o comentário do Presidente Andrés Sanchez para a Rádio Eldorado ESPN, dizendo que não sabe quem é Fábio Carille (veja aqui), hoje, 13/10, a festa mais propícia a ser comemorada é o Halloween, em pleno ano do Centenário.

O que foi maior, o lucro com o Centenário, ou o dividendo da folga, tendo que ser pago bem em época de desfalques e técnico interino?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

SWU: Último Dia, últimas impressões

Não visitei a Fazenda Maeda no domingo. Portanto, volto a falar por aqui apenas do terceiro e último dia do Festival SWU, começando pela mesma frase com a qual terminei o texto anterior: nunca crie um festival cujo nome rime com cu.

Foram filas enormes, preços abusivos, banheiros que não merecem comentários e lixo por todos os cantos. A sustentabilidade foi o último tema levado em conta, sendo que era o principal assunto do evento, com a realização de fóruns, inclusive.

Cornetadas a parte, o último dia estava frio e mais vazio do que o primeiro, provavelmente, pelo menos à primeira vista, mas estava bem intenso. Quando cheguei, o Gloria estava no palco e, quando entrei, o Cavalera Conspiracy já estava em seu momento – tamanha a demora nas filas de entrada.

Iggor e Max Cavalera mostraram o mesmo entrosamento que levou o Sepultura a ser o que é hoje: a maior banda brasileira conhecida no exterior. Por esse motivo, os irmãos não poderiam deixar de tocar as músicas da velha banda. Attitude, Refuse/Resist e, obviamente, Roots Bloody Roots, fizeram parte do set que levou o público ao delírio, juntamente com a presença de palco de Max.

Minutos depois, foi a vez do Avenged Sevenfold subir ao Palco Vento e deixar a plateia sem voz. Com a morte do baterista Jimmy “The Rev” Sullivan, Mike Portnoy, do Dream Theater foi convidado a completar o time na gravação do álbum Nightmare e na turnê de divulgação do mesmo. Aqui no Brasil, não foi diferente.

Ao contrário da primeira apresentação do A7X em terras brasileiras, M. Shadows e companhia estavam menos nervosos e não precisaram entrar no palco bêbados para aguentarem o tranco. Com um setlist de aproximadamente uma hora, a banda cativou, e muito, o público brasileiro e prometeu voltar, com mais tempo para mais músicas, em uma breve próxima vez.

Em seguida, era a vez do Incubus que, como o Avenged Sevenfold, vinha ao Brasil pela segunda vez e com menos nervosismo. Brandon Boyd parecia mais a vontade no palco, de maneira que até conversou com a plateia, como não havia feito em 2007. Mesmo assim, o Incubus agradou a gregos e troianos que não conheciam muito bem a banda e se cativaram com músicas como Oil and Water e Wish You Were Here.

Nota: ainda espero que o Incubus tocar Stellar e o Avenged Sevenfold toque Chapter Four, no Brasil.

De volta ao Palco Vento, talvez o maior público da última noite do SWU era o que aguardava o Queens of the Stone Age. A banda passou pelo Brasil no Rock in Rio de 2001 e ficou conhecida pela polêmica escolha do então baixista, Nick Olivieri, de fazer o show nu (Nick foi forçado a colocar uma calça e preso após a apresentação).

O enorme público presenciou o primeiro atraso do festival, que contava com a pontualidade como seu ponto forte, até então. A banda subiu ao palco quase uma hora depois do previsto, após uma explicação de “delay técnico”, vinda da produção, e vários gritos “SWU, vai tomar no cu”, vindos daqueles que esperavam o Queens.

Josh Homme fez bonito e agradeceu depois de cada música que tocou, desde Feel the Good Hit of Summer até A Song for the Dead. Valeu até a brincadeira: “aqui vai uma música que toooodos vocês conhecem”, disse Josh, antes do hit, No One Knows.

Com o atraso antes do show do Queens of the Stone Age, a organização do Festival fez questão de tentar agilizar as coisas, colocando os Pixies pra trabalhar logo após os Queens, sem tempo para o público respirar e trocar de palco. Dos Pixies, eu conhecia Here Comes Your Man, apenas, e essa foi a minha hora para respirar e sentir frio, fora da multidão fumante (possível de ser entendido em todos os sentidos).

Novamente, sem tempo para respirar, o Linkin Park já estava começando a sua apresentação, que, teoricamente, fecharia a parte rock’n’roll do SWU. O novo álbum da banda saiu há pouco tempo e muitos não conheciam muito bem as músicas, sendo que das 15 presentes no “ A Thousand Suns”, 13 foram tocadas na Fazenda Maeda.

Se for levado em conta o total de 25 músicas, 50% foram canções do novo álbum da banda. Certamente, boa parte do público esperava – e queria – ouvir as músicas dos dois primeiros lançamentos do Linkin Park: Hybrid Theory e Meteora. Resultado: várias pessoas saíram antes mesmo da apresentação da banda acabar.

Mike Shinoda parece estar mudado, diferente, mais calmo, mais cansado. Não é mais apenas o “vocalista de rap” do Linkin Park. Enquanto Chester Bennington, no entanto, continua enérgico e gritando, como sempre fez nas apresentações ao vivo da banda. One Step Closer valeu a noite, apesar das inúmeras ausências de músicas antigas no setlist escolhido para o Brasil.

Por fim, o DJ holandês Tiësto encerrava o SWU enquanto eu enfrentava a fila de carros, bem menor do que no primeiro dia de Festival, para deixar a Fazenda Maeda.

Considerações finais:
·         A sustentabilidade foi totalmente deixada de lado nos três dias de SWU. Havia lixo por todos os lados;
·         A preocupação com a economia de água foi tanta, que não havia a possibilidade de se lavar as mãos após a utilização dos banheiros, se é que podem ser chamados assim;
·         Algumas coisas como guarda-chuvas, canetas, escovas de dente e comprimidos para dor de cabeça foram barrados na revista de entrada, enquanto do lado de dentro da arena, cigarros, maconha e outras drogas eram consumidas livremente por algumas pessoas, sem fiscalização alguma.
·         A ideia de um grande festival é ótima para o Brasil e o local foi bem escolhido, apesar da dificuldade de acessos e filas. Muitas pessoas (ainda não há números oficiais) estavam presentes e afim de diversão, com música;
·         As atrações foram bem escolhidas e não houve repulsa a nenhuma das que eu vi tocar (vale citar como exemplo o Carlinhos Brown, no Rock in Rio de 2001). A arena era (bem) grande e dava pra fugir caso o artista em apresentação não agradasse.

O SWU foi uma ótima ideia, mas com má execução. A começar pelo nome: nunca crie um festival cujo nome rime com cu, a primeira impressão é a que fica.

domingo, 10 de outubro de 2010

SWU: Primeiro dia, primeiras impressões

Ontem, 9/10, foi o primeiro dia do festival de música e arte SWU (Starts With You) e tudo aquilo que se vê nos portais de notícias hoje são matérias a respeito de falta de organização e dos “imprevistos” ocorridos no show do Rage Against the Machine. Foram filas intermináveis, na entrada, na saída e durante o evento – nos restaurantes, banheiros e etc – além do principal tema do evento, a sustentabilidade, ter sido deixado de lado.

Embalagens de comida e bebida, como latas, garrafas, copos plásticos, guardanapos, bandejas e tudo mais, lotavam as poucas latas de lixo colocadas não tão estrategicamente assim na Fazenda Maeda, local onde foi realizado o evento. Com isso, as milhares de pessoas presentes jogavam o lixo onde estava mais perto, o chão.

Mas não é disso que eu quero falar. Cheguei de tarde e não acompanhei todos os shows, mas gostaria de falar de alguns em particular, coisa que eu não vi, ainda.

Ao pisar na arena da Fazenda Maeda, ouvi, ao longe, “Infectious Grooves”! E lá estavam no palco, liderados por Mike Muir, do Suicidal Tendencies, fazendo um som extremamente particular, técnico, pesado e com mais uma série de adjetivos. O destaque fica para Violent and Funky, com uma linha de baixo extremamente rápida e complicada, composta por Robert Trujillo, baixista da banda na época da música.

Quando os Mutantes entraram no palco, muitos aproveitaram para ir ao banheiro e comer. Confesso que fui um deles e não aproveitei muito o show de Sérgio Dias e sua trupe. Aliás, vale uma ressalva por conta do banheiro masculino: as cabines eram apenas figurativas, já que passada a parede construída, a área já poderia ser considerada como banheiro.

De volta à pista, estavam no palco os Los Hermanos, sem fazer shows periodicamente e escolhidos pelo público como banda nacional a tocar no SWU. Os último shows dos cariocas haviam sido na abertura das apresentações do Radiohead no Brasil, no ano passado. Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo pareciam empolgados com o público, agradecendo a todo momento e dizendo estar contentes com a oportunidade que lhes foi dada.

Nota: Durante a música “O Vencedor”, enquanto eu cantava e pulava com meus amigos, um cara, espantado com o nosso comportamento, pediu “vocês tem um doce aí?”. Não, não tínhamos.

Terminado o show dos Los Hermanos no palco Vento, o relógio marcava 20h50 em ponto, que era o horário previsto para o término do show no Lineup oficial do site do evento. A próxima banda, o Mars Volta, entraria no palco Água às 20h58 e foi exatamente o que aconteceu. A ideia dos dois palcos me pareceu estranha no começo, mas funcionou bem e os horários foram muito bem respeitados.

O guitarrista Omar Rodriguez-Lopez e o vocalista Cedric Bixler-Lavala lideraram a apresentação que durou cerca de uma hora e surpreendeu o público mais pela dificuldade das linhas tocadas e dos tempos complicados do que pela interação, em si. Ouvi um comentário que explica bem o show do Mars Volta: “eles tocam muito, mas parece que esqueceram que tinha um público pra eles aqui. Não falaram com a plateia em momento algum!”

Enfim, chegava o momento mais esperado da noite. O número de pessoas presentes no primeiro dia do SWU ainda não foi divulgado pela organização, mas, com certeza, mais de 90% do público presente estava lá por um único motivo: Rage Against the Machine. Talvez, tenha sido a única apresentação que não começou no horário, mas por conta de alguns minutos, apenas.

Zack de La Rocha, Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk subiram ao palco e começaram com uma porrada na orelha de quem estava presente: Testify iniciou o que seria um show histórico. Quando me dei conta, já estava na grade da pista normal, levado pelo fluxo de gente que tentava avançar na base do empurra-empurra.

Passados alguns minutos de show, o Rage Against foi forçado a parar, devido a alguns espertinhos invadindo a pista VIP, fato retratado pelos grandes portais, conforme dito antes, e que não será levado em conta aqui. Outro fato como esse, que também não será comentado, foi o “tilt” no sistema de som, que fez a banda parar por mais alguns minutos.

Vale falar, apenas, que o público gritou: “Ei, SWU, vai tomar no cu!”

Com hits como Know Your Enemy, Bullet in the Head, Guerrilla Radio e Sleep Now in the Fire, os americanos não parariam mais e, com isso, o público também não. Obviamente, o melhor ficou para o final. As duas músicas escolhidas para terminarem o show foram Freedom, seguida por Killing in the Name, sem dar tempo para ninguém respirar.

No Twitter, Tom Morello subiu ao topo dos TTBr por usar um boné do MST durante a apresentação. Ok, a banda apoia a causa e dedicou People of the Sun ao movimento, mas isso não foi maior do que o conjunto da obra. Um show perfeito, para quem esperava havia muito tempo, desde que a banda “encerrou” suas atividades, em 2000, e voltou no ano passado.

O congestionamento de carros na saída era evidente e previsível. Mesmo assim, muitos não ficaram satisfeitos com o que viram e com o que passaram, como esse que vos escreve. No entanto, o mais importante a se falar do primeiro dia do SWU foi a desorganização em alguns pontos, é claro, mas principalmente, o Rage Against the Machine.

Um amigo meu comentou, antes do show do Rage Against começar: “nunca faça um festival cujo nome rime com cu, em algum momento a galera vai rimar.” Eu completo o comentário, dizendo: só faça isso se tiver uma carta na manga, como o Rage Against the Machine. No final, críticas da imprensa a parte, quem estava lá nem vai se lembrar da rima.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Quem não quer a camisa 10?

Nas peladas de final de semana, ela é a mais cobiçada. Com os times já definidos, começa a distribuição das camisetas e a número 10 é a número 1. É aquela que todos querem usar, é aquela que acompanha o craque do time, o destaque. A mais honrosa e a mais disputada. Aliás, não é só nos campinhos de várzea que isso acontece. No futebol profissional, também é assim. Ou era.

Pelé jogava no Santos em 1958, com a 10, mas o mundo não conhecia a sua mágica, até a Copa do Mundo da Suécia. Na época, os jogadores não tinham numeração selecionável e tudo era feito por ordem alfabética, com exceção dos goleiros, que usavam a 1. E do Rei, que na reserva da seleção brasileira, estava com a 10.

Ironia do destino ou não, Pelé nunca mais tirou o manto e apresentou ao Planeta Bola o que era jogar futebol, em 1958, com 17 anos. Foram mais três copas: bicampeonato em 62, contusão em 1966 e o histórico tri, em 70. Edson Arantes do Nascimento ficou conhecido como o maior camisa 10 que o mundo já viu jogar.

Anos depois, um argentino apareceu, usando a camisa 10, logo de cara. Diego Armando Maradona conduziu a seleção argentina ao título mundial de 1986 e fez, no mesmo jogo, dois gols históricos: o mais bonito e o mais escandaloso das Copas. Contra a Inglaterra, Don Diego driblou todo mundo e marcou um gol incrível, além de pego uma sobra na área e socado a bola por cima do goleiro. Era a Mão de Deus.

Maradona é o único que, segundo alguns, pode ser comparado a Pelé. No Brasil, ele é “apenas” o segundo melhor camisa 10 que o mundo já viu jogar, além de motivo de piadas em relação aos seus problemas com drogas.

Portanto, se a camisa 10 é lendária, tem, pelo menos, dois motivos: Pelé e Maradona. Isso, é claro, se não citarmos outros craques pelo mundo, que fizeram história com a 10. Zidane, Matthäus, Platini, Zico e Hagi são alguns exemplos.

Porém, o futebol atual é uma prova de que as coisas não são como eram antigamente. Dos onze times que estão na zona de classificação pra alguma coisa (do Fluminense ao São Paulo), podemos destacar alguns. Os argentinos dão a bola no brasileirão e seguram as camisas 10 com mais maestria. Montillo, pelo Cruzeiro e D’Alessandro, pelo Internacional. Conca usa a 11, mas se comporta como um verdadeiro 10 em campo.

E quem é o 10 do Fluminense? Deco usa a 20, Washington a 9 e Emerson o, 10 original, está machucado, fora do time. No momento, o lendário número estampa a camiseta de Belletti. O contestado lateral foi campeão por onde passou, sempre com uma discrição ímpar. De tão discreto, poucos lembram do gol do título da UEFA Champions League de 2006, marcado pelo jogador, contra o Arsenal. No momento, a 10 do Fluminense, líder do campeonato, está encostada no banco, enquanto o argentino Conca dá show, com a 11.

Para disputar a Libertadores da América de 2010, o Corinthians investiu pesado. Contratou vários jogadores, vários camisas 10, por onde jogaram. Tcheco, Danilo, Iarley e Defederico chegaram a figurar uma reportagem exibida na TV, na qual todos diziam querer  a camisa que Rivelino usava no Timão. Agora, estamos no segundo semestre e Bruno César é o 10 incontestável do Corinthians, após chegar de um ótimo Paulistão pelo humilde Santo André.

Paulo Baier é o dono da camisa 10 e do Atlético-PR. O experiente jogador já jogou na lateral, com a 2, mas hoje é peça fundamental no quinto colocado do Brasileirão. Grêmio e Vasco vivem bom momento e lutam para subir na tabela, como o Furacão e contam com seus 10s, Douglas e Zé Roberto, respectivamente.

O 10 do Palmeiras é o chileno Valdívia, recentemente repatriado que volta a mostrar um futebol melhor do que quando chegou, mas ainda longe de quando saiu, em 2008. Já no Santos, o incontestável dono da 10 está fora do time até o final do ano. Paulo Henrique Ganso tende, também, a ser o 10 de Mano Menezes, na Seleção Brasileira.

No São Paulo, Hernanes saiu do time após a eliminação da Libertadores e deixou a camisa já usada por Raí sem dono. Vejamos a possível escalação do Tricolor para enfrentar o Vitória no domingo, segundo a ESPN: Rogério Ceni (1); Jean (2), Alex Silva (3), Miranda (5) e Diogo (34); Rodrigo Souto (18), Casemiro (29), Marlos (16) e Lucas (37); Fernandinho (12) e Dagoberto (25). Ricardo Oliveira (99) e Fernandão (15) estão fora do time. O São Paulo não tem camisa 10, nem 9 e nem 11.

O Tricolor é um dos times que adota numeração fixa no Brasileirão (Palmeiras e Corinthians são outros exemplos). No entanto, alguns são contra o ato, apelidado de ”NFLização” do futebol brasileiro, devido aos números altos nas camisas dos jogadores. O ataque do Botafogo, por exemplo, é formado por Loco Abreu (13) e Herrera (17). Maicosuel, o armador, usava a 7, antes de se machucar e ficar de fora do resto da temporada. No Palmeiras, Kleber (30) e Ewerthon (88) formam a dupla de frente.

Qual é o problema com a camisa 10? Nos times que a tem, com exceção do Fluminense, o 10 é, sim, o craque do time. E nos times que não tem? Será que os jogadores têm medo de usar a 10, por causa de toda a lenda e mística criada em cima dela? Quem não quer ser um craque?

É claro, camisa 10 não ganha jogo, mas ajuda. Pelé e Maradona que o digam.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A luta de Michael Vick

Ele não é o melhor exemplo de atleta do mundo. Pelo menos, não era. A história de Michael Vick é mais conhecida pelo que ele fez de errado do que pelo certo. Com um começo de carreira brilhante, Vick foi draftado (contratado) para jogar futebol americano profissional durante a faculdade, em seu segundo ano.

Em 2001, o Atlanta Falcons era o time que iniciaria Draft da NFL. O jovem Michael Vick foi o escolhido e fez história por ser o primeiro Quarterback negro a ser o primeiro do Draft. Camisa 7 dos Falcons, Vick levou o time aos playoffs por duas vezes durante as seis temporadas em que atuou por lá.

Seis, pois sua carreira foi interrompida em 2007.

Em abril daquele ano, Michael Vick foi acusado de organizar um esquema de briga de cães, que ocorria havia cinco anos. Quatro meses depois, ele foi preso, após confessar ser culpado. Foram 21 meses de prisão, dois meses de prisão domiciliar, quebra de contrato com a NFL, e com todos os patrocínios que tinha.

Apenas sete anos (julho/2008) após o início promissor na liga de futebol americano profissional, Vick havia declarado falência, depois de ter sido dispensado pelo Atlanta Falcons e de uma possível troca por outro jogador ter sido descartada.

O então ex-quarterback era o único da história da NFL a ter corrido mais de mil jardas em uma temporada (2006). Pelo lado psicológico, continuava a ser um ex-quarterback, lutando por espaço e tentando armar uma volta aos campos.

Na temporada de 2009, Vick foi re-integrado à NFL. Sua nova casa seria em Philadelphia, com os Eagles, que contavam dois quarterbacks no elenco: a lenda local, Donovan McNabb, e o jovem Kevin Kolb. Por isso, Michael pouco atuou, mas treinou muito com sua nova equipe.

Até que, em 2010, após onze temporadas de serviços aos Eagles, McNabb foi para o Washington Redskins e seria a grande chance de Kolb se destacar, com Vick como sua sombra, um “reserva de luxo”. Logo no primeiro jogo da temporada – contra os Packers – Kolb se machucou e “obrigou” o camisa 7 a entrar em campo: Vick passou para um Touchdown e correu 103 jardas, mas os Eagles perderam.

O torcedor de Philadelphia chegou a ressucitar suas lembranças de McNabb e do running back Brian Westbrook, negociado com os 49ers, mas no segundo jogo, contra o Detroit Lions, fora de casa, Vick passou para mais dois Touchdowns e os Eagles venceram: 35-32.

Durante a semana, Kevin Kolb se recuperou de sua contusão, mas o técnico Andy Reid disse: Vick será o titular contra o Jaguars. Deu certo: três passes para Touchdowns, 30 jardas corridas e mais um Touchdown conquistado por ele mesmo. Michael Vick voltou a ter um dia de glória, após vários anos (Veja aqui os melhores momentos do jogo).

O preconceito por parte dos torcedores da NFL ainda é grande. Muitos julgam Vick como culpado para sempre, como se ele nunca pudesse voltar a jogar. Imagens e montagens circulam pela internet, sátiras, provocações e mensagens de conscientização. O mais fácil de se dizer é que Vick é um mal exemplo para quem assiste a NFL (maioria dos norte-americanos e boa parte do mundo).

Em campo, o camisa 7 dos Eagles faz o mais difícil e mostra que não, não é (mais) um mal exemplo. Mais do que qualquer um que o rotula, Michael Vick sabe que errou. Esteve nas ruínas e tenta voltar, aproveitando a chance que lhe foi dada, por meio da superação.

O quarterback quer ser reconhecido pelo certo, novamente. A luta de Michael Vick volta a ser aquela, de 2001: ter uma carreira brilhante.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ninguém é maior do que o Santos

Neymar da Silva Santos Júnior nasceu, para a vida, em 1992 e, para o futebol, não muito tempo depois. Aos 14 anos de idade, o jovem já era pauta de reportagens do Esporte Espetacular e outros programas, pois havia a especulação de que o Real Madrid o levaria para jogar no Santiago Bernabéu.

Uma das reportagens mostrava Neymar no estádio, ao lado de seu pai e empresário, e dizia que o menino jogava muita bola, era fora de série e que o time de Madrid já o via em solo espanhol. No entanto, o Santos foi firme, e segurou o menino no Brasil.

Em 2009, aos 17 anos, Neymar estava no time profissional, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. Foi pouco aproveitado e o então técnico do Peixe dizia que o atacante ainda não havia amadurecido. Meses depois, Vanderlei se foi e Neymar ficou.

Veio, então, o ano de 2010. A diretoria do Santos foi bem e contratou o técnico Dorival Júnior, que havia acabado de subir com o Vasco para a Série A do Campeonato Brasileiro. Com Dorival, veio uma mudança, não tão grande, se for levada em conta a história do Santos.

Pelé tinha 17 anos quando despontou para o mundo, em 1958. Em 2002, Robinho tinha 17 e Diego, 16. Em 2010, Neymar e Paulo Henrique Ganso, estavam na média. Se tudo ocorresse como nas outras vezes, estaria formado um time campeão.

O primeiro semestre do ano foi incrível, ninguém bateu o Santos. O time perdeu, sim, alguns jogos, mas nada decisivo, e foi campeão – com sobras – das duas competições que disputou: o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil.

Estava coroada uma nova geração de campeões do Santos, repetindo 1958 e 2002. Só que, como os tempos atuais são outros, logo a nova geração santista começou a se desfazer: Wesley foi para o Werder Bremen e André para o Dinamo Kyiv. Ganso recebeu propostas do Lyon, não suficientes e Neymar, propostas do Chelsea.

Brilhantemente, a diretoria santista recusou a oferta e ofereceu um plano de carreira ao jogador, com benefícios que (muito) poucos jogadores têm em terras brasileiras. Revoltados, os dirigentes do Chelsea disseram que os santistas estavam loucos.

Desde então, tudo mudou. Neymar não desaprendeu o futebol, mas se colocou em um pedestal. O jogador, temido pelos adversários, já era tido como não muito comportado em campo e isso só aumentou. Perdeu pênaltis na Copa do Brasil e no Brasileirão e, com isso, perdeu também o posto de batedor oficial de penalidades do Santos.

Contra o Atlético-GO, Marcel foi o indicado por Dorival Júnior para bater a penalidade. Neymar se revoltou, xingou o treinador, fez cera, driblou inutilmente e, ainda assim, o Santos venceu o jogo, por 4x2.

Como conseqüência pela revolta, Neymar sofreu multa no salário e foi afastado do jogo contra o Guarani. Todos esperavam que ele voltasse contra o Corinthians. Dorival Júnior, não.

O resultado: hoje, 22 de setembro de 2010, o Brasil acordou com uma notícia esportiva nas manchetes: Dorival Júnior foi demitido do Santos. Em nota oficial (clique aqui e veja), o presidente do clube, Luiz Álvaro de Oliveira, explica:

“Considerando que mais de uma vez Dorival Jr. quebrou a hierarquia do clube, a sua permanência ficou insustentável.

Reiteramos que não toleramos atos de indisciplina dos nossos atletas, mas também não podemos concordar que ninguém se julgue maior do que o Santos FC.”

Ninguém é maior do que o Santos. Ouviu, Dorival? Só o Neymar.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O preço e os benefícios de ser o melhor do mundo

Lionel Messi é, indiscutivelmente, o melhor jogador do mundo. O argentino foi autor de 34 gols, em 35 jogos na última temporada pelo Barcelona, isso sem falar no(s) show(s). Na África do Sul, ele tentou, mas não conseguiu furar os bloqueios adversários. Todos os holofotes estavam virados em sua direção e os zagueiros, também.

Começa a temporada 2010-2011 na Europa e um jogador chama a atenção nos campos espanhóis. O nome dele? Messi, obviamente. Em um time cheio de estrelas e base da seleção campeã do mundo, o argentino é o destaque. Imagine aquele time da Espanha que entrou em campo no Soccer City no dia 11/7/2010, com Messi no lugar do apagado Fernando Torres, na ocasião. Esse é o Barcelona.

Após a derrota para o Hércules no primeiro jogo da Liga Espanhola, o Barça mostrou a que veio contra o Panathinaikos, em jogo válido pela UEFA Champions League. Começou perdendo por 1x0, mas virou, e como, para 4x1. Poderia ter sido 5,6,7,8 e por aí vai. Foi um show.

Na oportunidade, Messi marcou dois gols, participou de outro, marcado por Daniel Alves, e ainda se deu ao luxo de perder um pênalti (frustrando os que contam com ele no Fantasy da ESPN Brasil). A cada jogo, surgem mais e mais comparações com Diego Maradona. Inevitáveis, mas o melhor do mundo ainda pode mais, com seus 23 anos.

Na segunda rodada do Campeonato Espanhol, o Barcelona foi a Madrid, enfrentar o Atlético, de Diego Forlán. Messi deixou a sua marca em mais um belo gol, como já vem virando rotina. Os catalães venceram por 2x1, sendo que o gol vitorioso foi marcado pelo zagueiro Pique. No entanto, isso pouco importou.

Com o jogo já ganho, aos 47 do segundo tempo, Messi “recebeu” uma entrada do zagueiro tcheco Tomas Ujfalusi e saiu do campo de maca, chorando. O mundo se assustou, viu uma tragédia e Ujfalusi foi expulso de campo.

Rapidamente, cinco médicos cercaram o argentino, além de praticamente todos os jogadores de Barcelona e Atlético. E do mundo todo. Novamente, todos os holofotes estavam virados em sua direção, mas não com a vontade de vê-lo jogar, mas, sim, com medo.

No entanto, ontem, um dia após o jogo e a lesão, foi constatado que Messi sofreu um leve trauma no tornozelo direito e estará de volta para atormentar as defesas por aí em dez dias. Com isso, o argentino perderá duas partidas do Espanhol, contra Sporting Gijon e Athletic Bilbao.

Hoje, dois dias após o jogo e a lesão, a imprensa espanhola divulga que Ujfalusi pode pegar doze jogos pela entrada em Messi. O técnico do Atlético de Madrid, Quique Flores, disparou: "Sólo pasan estas cosas cuando son Messi o Cristiano los perjudicados." (Via marca.com)

Ex-zagueiro, Flores completou: “Todo acontece así porque es Messi el protagonista. No es una entrada descabellada; sí es dura y sobre todo desfortunada”. O agora técnico conhece seu jogador e sabe (pelo menos acredita) que não há motivos para uma entrada dura, aos 47 do segundo tempo, com o jogo já perdido.

De certa forma, Quique Flores não está errado. Podemos tomar como exemplo o zagueiro Martin Taylor, que atuava pelo Birmingham em 2008 e quebrou a perna do brasileiro-croata Eduardo da Silva, em uma entrada mais do que violenta (veja aqui o lance, incrível).

Enquanto Eduardo foi rapidamente levado a um hospital, praticamente desacordado, e ficou de fora do futebol por um ano, Taylor foi expulso e tomou, apenas, três jogos de suspensão. Eduardo não é o melhor do mundo e não muitos torcedores, além dos do Arsenal na época, se revoltaram contra a punição a Taylor.

Se pensarmos no Brasil, nada se resolve no gramado e, sim, no STJD. É tudo ao contrário, as punições previstas no regulamento, que podem chegar a 120 dias, às vezes, se tornam um jogo ou dois, no máximo, além do pagamento de cestas básicas. Porém, vamos deixar o país do futebol – e do tapetão – de lado, senão isso vira um livro, e voltar ao melhor do mundo.

Messi recebe, sim, os holofotes e paga o preço de ser o melhor do mundo. Joga muito futebol e, por isso, sofre dura marcação, muitas faltas e atormenta os zagueiros, é claro. Tomas Ujfalusi foi apenas mais um a sofrer com o argentino e paga o preço, por também fazê-lo sofrer, podendo ficar de fora de La Liga por doze partidas.

Ser o melhor do mundo também tem os seus benefícios.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Quando o time entra em campo

Quem nunca cabulou uma aula na vida? Com certeza, uma boa porcentagem da população paulistana, ao menos, já praticou tal ato. O que posso dizer é que eu estou nessa contagem, mais de uma vez. No entanto, ontem, talvez tenha sido uma das não-aulas mais produtivas que já tive.

Em várias oportunidades, a Libertadores da América, a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro e até mesmo a Seleção Brasileira, com seus amistosos e eliminatórias, nos fazem pensar duas vezes antes de entrar/ficar nas aulas. Desta vez, foi diferente, o motivo foi outro.

“Os 100 Melhores Jogadores Brasileiros de Todos os Tempos”. Mais convincente e auto-explicativo que isso, difícil. Mais do que um livro, uma empreitada, assinada por dois autores: um Kfouri e um certo Paulo Coelho. Ou melhor, André Kfouri e Paulo Vinícius Coelho, o PVC.

Parceria da Ediouro com a ESPN Brasil, o livro trata de uma seleção dos melhores, não apenas selecionados por PVC e André, mas pelos fãs de esporte, que votaram pelo portal ESPN.com.br e elegeram 180 jogadores. Destes, 100 foram selecionados pelos dois, com a ajuda de jornalistas renomados do próprio canal e de outros lugares. Vale dizer que o livro conta com um capítulo chamado “Injustiças”, que explica como tudo foi feito.

Poucos países podem se dar ao luxo de ter tantos jogadores bons, suficientes para serem colocados em um livro como o Brasil. Existem, evidentemente, vários bons atletas no mundo afora, Alemanha, Argentina, Itália e muitos outros, por exemplo. Mas só nós podemos eleger uma centena deles e, ainda assim, deixar muitos de fora. Se existe um Top100, em contagem regressiva? Não, não existe. A ordem é muito mais simples: Pelé é o primeiro apresentado e os outros craques estão em ordem alfabética.

A obra foi lançada ontem, 24/8, na Livraria Saraiva do Shopping Morumbi, com direito a uma noite de autógrafos e a um coquetel – com direito a petiscos e champanhe, inclusive. Como crianças ansiosas para entrarem em um estádio pela primeira vez para ver o time do coração, os fãs de esportes aguardavam, em fila, como bons paulistanos, a sua vez de ter o livro assinado, bater uma foto, conversar um pouco.

Humildemente, figuras do jornalismo esportivo nacional também pegaram fila, como Arnaldo Ribeiro, Milton Leite e Rodrigo Bueno. Além deles, José Trajano, diretor de jornalismo da ESPN Brasil, foi breve e, também gentilmente, furou a fila, bateu uma foto com seus dois colaboradores e foi embora, tudo em menos de dois minutos.

Obviamente, este que escreve também estava lá, no terceiro lugar da fila, igualmente como uma criança, esperando a própria vez de receber um autógrafo. Do mesmo jeito que ocorre quando o time entra em campo e o coração bate mais forte, já que a criança vê seus ídolos, jogadores, mais de perto, pode-se dizer que, para um protótipo de jornalista esportivo, o dia 24/8 foi exatamente assim.

Com tantos jornalistas de renome, tão perto, fotos com alguns deles, além da reportagem da ESPN presente e um livro sensacional em mãos, só uma coisa foi mais marcante:

“E aí, André. E aí, PVC. Tudo bem? Meu nome é Luiz, sou estudante de jornalismo e...”
“Ah, Luiz, eu conheço você!”, disse o PVC.

Participei das dinâmicas para integrar o Programa de Estágio da ESPN Brasil no ano passado, mas infelizmente não tive êxito. É algo que lembro quase todos os dias, até hoje, e penso: O que eu errei? Em que fui incapaz? O que eu esqueci? Lembro das palavras do PVC naquele dia, que disse pra ninguém desistir da área esportiva e pra entrar só se realmente gostasse da coisa. E o cara que tudo lembra, lembrou de mim também.

E quebrou o pseudo-discurso que eu tinha montado. E fez com que a aula cabulada tivesse valido (ainda mais) a pena.

domingo, 8 de agosto de 2010

Japão 5 x 4 México

Foi um dos melhores jogos de futebol da história, mesmo sendo apenas um amistoso e entre dois times sem expressão – mas emergentes – no cenário mundial. Os poucos espectadores viram um jogo incrível, com muitos lances, muitos gols e um resultado surpreendente.

Japão e México jogaram no Estádio Internacional de Yokohama, neste último sábado, 7/8, em amistoso pós-Copa, como o que o Brasil terá contra os Estados Unidos na terça-feira, dia 10. Os japoneses levaram a melhor e venceram por 5x4.

Os mexicanos abriram o placar no primeiro tempo, aos 15 minutos, com um gol de Cuauhtemoc Blanco, após falha da zaga em cobrança de escanteio. Sem dar tempo para comemorações, Keiji Tamada recebeu de Abe e empatou o jogo, um minuto depois.

Acredite ou não, todos os outros gols foram no segundo tempo. Novamente, o México começou na frente, com Carlos Vela e, logo em seguida, fez 3x1 com um gol contra de Nakazawa. No momento em que o Japão esboçava uma reação e era melhor no jogo, Bautista, que entrou no segundo tempo, fez o quarto gol mexicano.

A partir de então, o técnico japonês, Takeshi Okada, colocou o time todo para a frente, sem fazer alterações. Os asiáticos adotaram um posicionamento ultra-ofensivo, pressionando na marcação e saindo com muita força para o ataque. O resultado logo veio: Tamada marcou duas vezes: 4x3.

A pressão continuava intensa e o tempo passava. Keisuke Honda roubou uma bola dentro da área mexicana e empatou a partida, com 43 do segundo tempo, deixando o placar da partida em Yokohama em um inacreditável 4x4. No entanto, ainda faltavam dois minutos a serem jogados.

Para o desespero dos mexicanos presentes, logo na saída de bola, Honda roubou mais uma bola e deixou Keiji Tamada na cara do gol. O centroavante não perdoou e marcou seu quarto gol no jogo, quinto do Japão, para o delírio da torcida local. Com 5x4 no placar, o México, que parecia não acreditar no que acontecia, nada pôde fazer e o jogo terminou, para muita festa nas arquibancadas.

Aposto que, agora, você se pergunta: por que ninguém falou deste jogo na televisão, rádio e internet, se foi tão incrível? Quem foram os torcedores (sortudos) presentes no estádio que viram tal partida?

Poderia muito bem ser uma notícia num caderno de esportes, mas é um texto de blog. Poderia ser um jogo real, mas foi apenas uma partida de FIFA World Cup 2010 no videogame. E se isso não fosse dito, quem saberia? Talvez alguém mais informado, apenas, pois saberia todo o cronograma de jogos amistoso pelo mundo.

Mas ok, vamos continuar pensando que foi real, ignorando o parágrafo acima.

Que jogo!