segunda-feira, 2 de maio de 2011

Antes de ser Senna, ele era Silva

Por essência, o brasileiro é um povo apaixonado por feriados. Muitos viajam, deixam a vida profissional de lado por um (ou mais, no caso das “pontes”) dia, não importa qual seja o feriado ou qual é o significado por trás dele. Quando criança, uma das grandes dúvidas que eu tinha, era porque o Dia do Trabalho era um feriado. Ora, se era Dia do Trabalho, todos deveriam trabalhar.

Anos depois – mais precisamente agora, já que acabei de pesquisar – descobri o porquê de tudo isso. Tudo começou em 1886, com uma manifestação trabalhista nos Estados Unidos, que, nos anos seguintes, se repetiu na França e na Rússia, em prol da redução na jornada de trabalho. A própria França decretou a data como feriado em seu território e, com o tempo, alguns países fizeram o mesmo. O Brasil foi um deles.

A diferença é que desde 1994, o Dia do Trabalho se tornou uma data duplamente simbólica para os brasileiros. Mais do que um feriado, mais do que uma data para se fugir da vida profissional, é uma data triste. O Dia do Trabalho também se tornou o aniversário da morte de um dos maiores mitos que o esporte mundial já viu: Ayrton Senna.

Com esse, são 17 primeiros de maio mais tristes. Faz 17 anos que o hino nacional brasileiro toca menos vezes do que o povo se acostumou a ouvir no fim dos anos 80 e começo dos anos 90 – Senna teve 41 vitórias em sua carreira, contra 11 de Felipe Massa e 11 de Rubens Barrichello, até então.

Ayrton Senna da Silva, antes de ser Senna, era Silva, como milhões de brasileiros. Humilde como poucos esportistas, ele cativava as multidões. A Fórmula 1 já tinha a sua popularidade no Brasil, mas foi com Ayrton que chegou ao seu ápice. Aos domingos, às 9h da manhã, todos se reuniam na frente de suas televisões para ouvir não só o hino nacional brasileiro, mas o “Ayrton Senna, do Brasil!”, melhor “bordão” que Galvão Bueno produziu em toda a sua carreira, acompanhado de uma das músicas mais famosas do país.

Segundo o WikiPedia, o Tema da Vitória foi composto para ser tocado nos Grandes Prêmios do Brasil e, inclusive, já tocou até em uma vitória de Alain Prost, em 1984. Com Nelson Piquet, a música começou a ser usada nas vitórias dos pilotos brasileiros, mas foi com ele, Ayrton Senna, que o Tema da Vitória realmente se popularizou (veja, aqui, um exemplo).

A música, interpretada pelo grupo Roupa Nova, se identificou com Ayrton da mesma maneira que ele se identificava com o povo brasileiro. Com o tempo, Vitória se tornou sinônimo de Senna. Até hoje, é praticamente impossível não associar o Tema da Vitória à imagem da McLaren branca e vermelha, com aquele piloto de capacete nas cores do Brasil e a bandeira de seu país ao vento.

Ayrton Senna foi um Silva como muitos outros brasileiros. Humilde (de família rica, é verdade), mas que nunca deixou de lutar, correr atrás e trabalhar pelo que queria. Um trabalhador digno de ser lembrado, para sempre, não só em todos os Primeiros de Maio, mas nos dias 13 de julho, 25 de outubro, 31 de março, 4 de dezembro. Todos os dias, sejam Dias do Trabalho, ou não.