Nas peladas de final de semana, ela é a mais cobiçada. Com os times já definidos, começa a distribuição das camisetas e a número 10 é a número 1. É aquela que todos querem usar, é aquela que acompanha o craque do time, o destaque. A mais honrosa e a mais disputada. Aliás, não é só nos campinhos de várzea que isso acontece. No futebol profissional, também é assim. Ou era.
Pelé jogava no Santos em 1958, com a 10, mas o mundo não conhecia a sua mágica, até a Copa do Mundo da Suécia. Na época, os jogadores não tinham numeração selecionável e tudo era feito por ordem alfabética, com exceção dos goleiros, que usavam a 1. E do Rei, que na reserva da seleção brasileira, estava com a 10.
Ironia do destino ou não, Pelé nunca mais tirou o manto e apresentou ao Planeta Bola o que era jogar futebol, em 1958, com 17 anos. Foram mais três copas: bicampeonato em 62, contusão em 1966 e o histórico tri, em 70. Edson Arantes do Nascimento ficou conhecido como o maior camisa 10 que o mundo já viu jogar.
Anos depois, um argentino apareceu, usando a camisa 10, logo de cara. Diego Armando Maradona conduziu a seleção argentina ao título mundial de 1986 e fez, no mesmo jogo, dois gols históricos: o mais bonito e o mais escandaloso das Copas. Contra a Inglaterra, Don Diego driblou todo mundo e marcou um gol incrível, além de pego uma sobra na área e socado a bola por cima do goleiro. Era a Mão de Deus.
Maradona é o único que, segundo alguns, pode ser comparado a Pelé. No Brasil, ele é “apenas” o segundo melhor camisa 10 que o mundo já viu jogar, além de motivo de piadas em relação aos seus problemas com drogas.
Portanto, se a camisa 10 é lendária, tem, pelo menos, dois motivos: Pelé e Maradona. Isso, é claro, se não citarmos outros craques pelo mundo, que fizeram história com a 10. Zidane, Matthäus, Platini, Zico e Hagi são alguns exemplos.
Porém, o futebol atual é uma prova de que as coisas não são como eram antigamente. Dos onze times que estão na zona de classificação pra alguma coisa (do Fluminense ao São Paulo), podemos destacar alguns. Os argentinos dão a bola no brasileirão e seguram as camisas 10 com mais maestria. Montillo, pelo Cruzeiro e D’Alessandro, pelo Internacional. Conca usa a 11, mas se comporta como um verdadeiro 10 em campo.
E quem é o 10 do Fluminense? Deco usa a 20, Washington a 9 e Emerson o, 10 original, está machucado, fora do time. No momento, o lendário número estampa a camiseta de Belletti. O contestado lateral foi campeão por onde passou, sempre com uma discrição ímpar. De tão discreto, poucos lembram do gol do título da UEFA Champions League de 2006, marcado pelo jogador, contra o Arsenal. No momento, a 10 do Fluminense, líder do campeonato, está encostada no banco, enquanto o argentino Conca dá show, com a 11.
Para disputar a Libertadores da América de 2010, o Corinthians investiu pesado. Contratou vários jogadores, vários camisas 10, por onde jogaram. Tcheco, Danilo, Iarley e Defederico chegaram a figurar uma reportagem exibida na TV, na qual todos diziam querer a camisa que Rivelino usava no Timão. Agora, estamos no segundo semestre e Bruno César é o 10 incontestável do Corinthians, após chegar de um ótimo Paulistão pelo humilde Santo André.
Paulo Baier é o dono da camisa 10 e do Atlético-PR. O experiente jogador já jogou na lateral, com a 2, mas hoje é peça fundamental no quinto colocado do Brasileirão. Grêmio e Vasco vivem bom momento e lutam para subir na tabela, como o Furacão e contam com seus 10s, Douglas e Zé Roberto, respectivamente.
O 10 do Palmeiras é o chileno Valdívia, recentemente repatriado que volta a mostrar um futebol melhor do que quando chegou, mas ainda longe de quando saiu, em 2008. Já no Santos, o incontestável dono da 10 está fora do time até o final do ano. Paulo Henrique Ganso tende, também, a ser o 10 de Mano Menezes, na Seleção Brasileira.
No São Paulo, Hernanes saiu do time após a eliminação da Libertadores e deixou a camisa já usada por Raí sem dono. Vejamos a possível escalação do Tricolor para enfrentar o Vitória no domingo, segundo a ESPN: Rogério Ceni (1); Jean (2), Alex Silva (3), Miranda (5) e Diogo (34); Rodrigo Souto (18), Casemiro (29), Marlos (16) e Lucas (37); Fernandinho (12) e Dagoberto (25). Ricardo Oliveira (99) e Fernandão (15) estão fora do time. O São Paulo não tem camisa 10, nem 9 e nem 11.
O Tricolor é um dos times que adota numeração fixa no Brasileirão (Palmeiras e Corinthians são outros exemplos). No entanto, alguns são contra o ato, apelidado de ”NFLização” do futebol brasileiro, devido aos números altos nas camisas dos jogadores. O ataque do Botafogo, por exemplo, é formado por Loco Abreu (13) e Herrera (17). Maicosuel, o armador, usava a 7, antes de se machucar e ficar de fora do resto da temporada. No Palmeiras, Kleber (30) e Ewerthon (88) formam a dupla de frente.
Qual é o problema com a camisa 10? Nos times que a tem, com exceção do Fluminense, o 10 é, sim, o craque do time. E nos times que não tem? Será que os jogadores têm medo de usar a 10, por causa de toda a lenda e mística criada em cima dela? Quem não quer ser um craque?
É claro, camisa 10 não ganha jogo, mas ajuda. Pelé e Maradona que o digam.
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