segunda-feira, 28 de março de 2011

Rogério Ceni - antes de tudo, goleiro

Quando a diretoria do São Paulo contratou o jovem Rogério, há 20 anos atrás, junto ao desconhecido Sinop, do estado do Mato Grosso, não imaginava que proporções isso poderia tomar. Talvez nem soubessem que ele batia faltas.

Rogério era reserva de Zetti nas campanhas vitoriosas do Campeonato Brasileiro de 1991 e o bi-Libertadores e bi-Mundial, de 1992-93 e, diferentemente do que se faz hoje – atualmente, os times costumam ir atrás de novos goleiros, em vez de aproveitar os reservas – virou titular do time em 1997, quando Zetti deixou o São Paulo.

Foi no mesmo ano em que o “novo” goleiro do São Paulo avançou da sua meta para bater suas primeiras faltas próximas à grande área dos adversários. E, em 15 de fevereiro de 1997, contra o União São João de Araras, e em sua quarta cobrança, Rogério marcou o seu primeiro gol.

Para o torcedor, uma grata surpresa que, com o passar dos anos, virou uma competição com o goleiro paraguaio Chilavert. O paraguaio já fazia os seus gols de falta, principalmente de pênalti, e encerrou sua carreira com 62 gols.

Desse momento em diante, foram muitos gols, em partidas normais e importantes. No entanto, Rogério nunca deixou de fazer o que sua profissão pede: defender o gol. Tanto que, para muitos, sua melhor atuação foi na final do Mundial de Clubes de 2005, contra o Liverpool. Na ocasião, o goleiro não fez gols, mas evitou e fez uma defesa incrível, em uma falta batida pelo meia Steven Gerrard (veja aqui).

Com o tempo, ele adotou o sobrenome e virou Rogério Ceni e não parou de defender e fazer gols. Porém, nenhum deles foi mais comemorado do que o marcado contra o Corinthians, no dia 27 de março de 2011.

O São Paulo não vencia o rival há quatro anos e, antes da partida, Rogério tinha 99 gols. Foi quando, aos 8 minutos do segundo tempo, o goleiro teve uma oportunidade de entrar, mais ainda, para a história. E entrou. E aconteceu ali, na Arena de Barueri e em pleno ano do Centenário do Timão, o 100º gol de Rogério Ceni, para a alegria dos tricolores e tristeza dos corintianos.

Hoje, Rogério é o jogador com mais atuações pelo São Paulo na história (965) e o maior goleiro artilheiro da história do futebol, com 100 gols. Pelé e Romário – segundo suas contas – fizeram mais de mil, como atacantes. Para um goleiro, a marca dos 100 é equivalente.

No entanto, ao ser comparado com o Rei do Futebol, Ceni foi claro: “Pelé é Pelé. A única coisa que eu sou melhor do que o Pelé é no gol.” Um artilheiro, mas, antes de tudo, um goleiro. O maior goleiro da história do São Paulo, um dos melhores do Brasil e do mundo.

Parabéns, Rogério Ceni.

Ps.: Veja aqui grandes gols da carreira de Rogério Ceni e o centésimo gol, com a narração incrível de Paulo Soares, da Estadão/ESPN)

domingo, 13 de março de 2011

Uma facada nas costas: o amor à camisa na NBA

Gerald Wallace nasceu no estado do Alabama, em 1982 e apareceu para o mundo do basquete no ano 2000. O ala foi premiado com o Naismith Prep Player of the Year Award, prêmio dado ao melhor jogador do colegial no ano, que já havia sido concebido, em 1996, a um certo garoto chamado Kobe Bryant.

Em seguida, ele atuou pela universidade de seu estado por apenas um ano e chegou a NBA em 2001, draftado pelo Sacramento Kings, do estado da Califórnia, bem longe de sua casa. Wallace atuou pela equipe por três temporadas e foi pouco aproveitado. Reserva, mal entrava em quadra naquela que é considerada por muitos como uma das melhores equipes da história dos Kings, com Mike Bibby, Doug Christie, Peja Stojakovic, Chris Webber e Vlade Divac.

Três anos depois, a primeira grande mudança na carreira de Wallace na NBA aconteceu com a entrada de um novo time na liga: Os Charlotte Bobcats, que tinham nos bastidores, e hoje têm como presidente, ninguém menos do que Michael Jordan. Justamente por ser uma equipe nova, precisavam de um elenco completo e o ala foi um dos escolhidos para integrar o grupo dos Bobcats, no time titular.

Foi durante sua carreira em Charlotte, cidade no estado da Carolina do Norte, próximo ao Alabama, que Wallace recebeu um apelido, como é comum a vários jogadores da NBA. “Crash” foi o codinome escolhido, já que ele jogava sem dó do próprio corpo, usando o máximo possível de raça e vontade e isso o levava, consequentemente, a frequentes contusões.

No entanto, além de ser “raçudo”, Gerald Wallace rapidamente se tornou um jogador fundamental para os Bobcats, aumentando, e muito, suas estatísticas em relação às antigas, da passagem pelos Kings. Em Sacramento, Wallace tinha uma média de menos de 4 pontos por jogo, enquanto em Charlotte ele alcançou 19.4, na temporada 2007-08.

Justamente nessa temporada, em fevereiro, o ala sofreu uma grave concussão (até então, a quarta na carreira pelos Bobcats), perdeu vários jogos e não tinha retorno definido, mas voltou a jogar pouco tempo depois. Além da melhor média de pontos de sua carreira, Wallace também teve a melhor média de assistências e de minutos jogados.

O auge do jogador veio em 2009-10. Capitão do Charlotte Bobcats, Gerald Wallace conduziu a franquia à sua primeira aparição nos playoffs da história, foi o primeiro jogador dos Bobcats a ser escolhido para um All-Star Game e para um Slam Dunk Contest (Campeonato de Enterradas), integrou a equipe dos melhores jogadores de defesa da liga e a seleção norte-americana do pré-olímpico de basquete masculino.

A temporada de 2010-11 reservaria a Wallace a segunda grande mudança em sua carreira, mas, desta vez, uma mudança diferente. O mercado de trocas na NBA estava aberto até o dia 24 de fevereiro e, até o dia 23, segundo o próprio jogador, não havia nada que pudesse indicar uma possível troca. Porém, não foi isso que aconteceu.

Wallace foi envolvido em um negócio incrível: se mudou de Charlotte para Portland, para jogar pelos Trail Blazers, enquanto Dante Cunningham, Joel Przybilla e Sean Marks foram para os Bobcats. Além disso, a então ex-equipe de Gerald Wallace receberá dois novatos de primeiro round (um em 2011 e outro em 2013), mais um valor não divulgado, em dinheiro.

Portland se localiza no estado do Oregon, ainda mais longe do Alabama e, apesar dos Blazers possuírem uma grande equipe nesta temporada, com grandes chances de ir aos playoffs, o cenário não é suficiente para a felicidade da mais nova estrela da franquia.

“Uma facada nas costas”. Foi assim que Wallace definiu a troca que o levou a Portland. Segundo ele próprio, sua ideia era se aposentar em Charlotte. “Na verdade, eu achava que quando eu deixasse de vestir um uniforme dos Bobcats, seria porque eu teria finalizado minha carreira no basquete”, completou.

Hoje em dia, o amor à camisa, que já é raro em vários esportes, como o futebol, torna-se praticamente desprezível na NBA. Afinal, as equipes fazem os negócios pensando no futuro das franquias e como reforçar os elencos de maneira mais econômica, com jogadores dos drafts futuros.

Na noite do dia 11 de março, Gerald voltou a Charlotte pela primeira vez, com a camisa do Portland e foi homenageado com um tributo, que foi ao ar no telão do ginásio. Aplaudido por todos, Wallace foi, inclusive, apresentado pelo locutor oficial da Time Warner Cable Arena, mesmo sendo do time adversário, da maneira como era antes, quando era jogador da equipe dos Bobcats. (veja aqui o vídeo)

No release oficial da troca (veja aqui, em inglês), o gerente geral da equipe, Rob Higgins, agradeceu a Wallace por toda sua contribuição para os Bobcats, dentro e fora de quadra, além de dizer que a decisão da troca foi a mais interessante encontrada para o futuro da franquia de Charlotte. Gerald Wallace é o líder histórico da franquia dos Charlotte Bobcats em jogos, minutos jogados, pontos, roubadas de bola, rebotes defensivos, arremessos de quadra tentados e certos e lances livres tentados e certos. Porém, Wallace não era apenas a maior estrela de Charlotte, mas, também, o jogador mais caro da equipe.

E, para o futuro, não existem jogadores caros. E, infelizmente, nem amor à camisa. Aliás, até existe, mas é desprezível.