quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Se vira nos trinta minutos

Jornalista, recém-formado e disponível para o mercado. Preferencialmente (o que não quer dizer exclusivamente) para a área de esportes, mas apto a trabalhar em outras editorias também. Esse sou eu atualmente, para os que não me conhecem direito. Já para as empresas que me entrevistam, ou leem meu currículo, sou um jornalista inexperiente que só quer saber de esportes e nada mais, portanto não serve para a empresa.

Cada vez que penso em escrever algo sobre o assunto “contratação” ou “entrevistas de emprego”, tenho preguiça. Tanta preguiça quanto algumas empresas têm ao te “entrevistar” – propositalmente entre aspas.

Imagine-se você, sem emprego, esperando por algum alerta de sites por e-mail. Os alertas vêm, e em massa, te dizendo que sim: há vagas em aberto em muitas empresas por aí. Isso todos os dias. Sem nunca titubear, você demonstra o interesse em aproximadamente todas as vagas que te aparecem, sejam elas as que têm mais ou menos a ver com o que você chama de “eu” as empresas chamam de “perfil” (falaremos disso mais para frente no texto).

Ok. Com muito custo, de vários currículos enviados em uma tarde ociosa, duas empresas me ligaram, disseram querer me conhecer e marcaram entrevistas de emprego. Evidentemente, me preparei na medida do possível, li sobre as empresas e me preparei para responder perguntas que, em teoria, não deviam ser lá muito longe daquilo que estudei na faculdade. Afinal, busco vagas que acredito terem meu perfil.

Em uma das empresas, fui entrevistado por um grupo de pessoas aparentemente interessadas em mim. Um verdadeiro bombardeio de perguntas e me saí bem, pelo menos de acordo com a impressão dos entrevistadores. Os pontos fracos, que eu mesmo notei na conversa, foram que eu disse gostar muito de esportes (quando eles perguntaram do que eu gostava mais) e que nunca havia trabalhado na área da empresa, mas que estava disposto a encarar um novo desafio de peito aberto e pronto para aprender.

Dias depois, uma ligação de um dos entrevistadores me surpreendeu. Afinal, o famoso “te ligo nos próximos dias” é uma mentira comum, mas, nesse caso, foi verdade. No entanto, a ligação não foi para me contratar, mas sim para me dar um feedback... negativo. Ok, não tão depressivo assim: me ligaram para dizer meus pontos de melhoria e as palavras foram “você fala rápido demais, parecia estar ansioso e não estava em trajes adequados para um novo desafio que você disse estar disposto a encarar.” Ou seja, me pareceu que se eu tivesse falado mais devagar e estivesse devidamente engravatado, seria contratado. De que valeu o bombardeio de perguntas e respostas se só analisaram a maneira como falei e a roupa que vestia?

Na outra empresa, fui igualmente recebido por um grupo de entrevistadores. Dessa vez, despreparados (sem um currículo em mãos, inclusive) e, em vez da habitual conversa (é uma entrevista!), uma ficha: “preenche aí”, disseram. A ficha tinha campos para eu colocar meus dados pessoais e três perguntas: “quais são seus três principais defeitos?”, “quais são suas três principais qualidades?” e “conte sua última experiência profissional”. Após preencher a ficha enquanto os entrevistadores conversavam sobre a nova edição do Big Brother Brasil, um deles me fez a pergunta/proposta: ”conta sua última experiência profissional.” Não satisfiz ao dizer que nunca tinha trabalhado como redator publicitário antes (se tivessem lido meu currículo antes, saberiam disso, talvez), nem ao dizer que estava disposto a aprender e começar em algo novo.

Depois, enquanto faziam entrevista com outra pessoa, para outro cargo, de outra área, mas na mesma sala, me pediram para fazer uma redação-teste e saíram da sala, deixando o outro entrevistado também incumbido de fazer um teste. Pouco mais de meia hora depois, voltam, leem, em segundos, o texto que demorei a escrever – e coloquei meu fôlego ali, afinal, queria o emprego – dizem estar bom e me dispensam dizendo que “uma nova entrevista será marcada com o diretor ”. O fato é: a tal nova entrevista ainda não foi agendada e não houve feedback algum, mesmo negativo.

Esses são apenas dois casos, de vários que aconteceram (e acontecem) não só comigo, mas com amigos e colegas recém-formados também. Em uma entrevista de emprego não existe “eu” ou “você”, mas, sim, um perfil que, para a empresa é você. Ou seja, você é exatamente aquilo que passa na entrevista e, se você diz (ou veste) uma coisa que desagrade à empresa, um abraço e procure outra coisa. Um exemplo que, por sorte, deu certo: na minha entrevista de estágio, aquela que viria a ser minha chefe não estava presente, portanto, fui contratado. Se ela lá estivesse para me conhecer, muito provavelmente não me contrataria, pois não gosta de homens de barba.

Pouco importa a sua vontade de trabalhar e o seu interesse na vaga. Vale mais se você tem experiência (algumas empresas ainda adicionam a palavra comprovada, afinal você pode mentir sobre o que fez ou não) ou se enquadra no perfil que a empresa procura. Vale a imagem que você passa em meia hora de entrevista, goste a empresa de você ou não, portanto. Então, parafraseando Fausto Silva, “se vira nos trinta” (minutos). É o que você tem para provar ser digno de trabalhar em uma empresa, ou não.

Um comentário:

  1. Mandou o papo reto Luis. É bem isso mesmo, infelizmente na nossa área é o FAMOSO QI (Quem Indica) que faz uma pessoa entrar na empresa. Todas as minhas experiências na área foram graças a isso, estou tentando conseguir agora sem a ajuda de ninguém e tentando freelas, e nem isso estou conseguindo.

    Recém formados só se fodem mesmo, pra falar um português correto.

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