terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Dançando conforme a música

Nota: não uso as expressões "vexame", "zebra" e “azar do Celso Roth” neste texto.

Alguns dizem que é impossível dançar sem música. Dizem que é necessário ter alguma batida, algum ritmo, alguma sequência de notas musicais para que se possa balançar o esqueleto. Dizem, ainda, que existem regras para dançar, os chamados passos, e que quem não os executa com maestria é um dançarino ruim.

A dança do goleiro Kidiaba tem tudo para se popularizar, se tornar um viral, um símbolo do Mundial de Clubes da FIFA, mesmo que os africanos do Mazembe não terminem a competição como campeões. Podemos dizer que todos se lembram de que o símbolo da última Copa do Mundo de seleções, na África do Sul, foi a vuvuzela, independentemente de os Bafana Bafana ou qualquer outra seleção do continente ter sido campeã.

A torcida africana não parou por um minuto de dançar, pular, cantar e de tocar vuvuzelas, é claro. Já os muitos gaúchos presentes logo ficaram apáticos após o primeiro gol do Mazembe, marcado por Kabangu. E foi exatamente sem música e sem passos coordenados de música que o Internacional de Porto Alegre perdeu e foi eliminado do Mundial de Clubes da FIFA, antes da grande final.

Os gaúchos dançavam conforme a música dos africanos e, depois da (quase) correria em busca do empate, o passo final foi um chute certeiro de Kaluyituka, no canto do goleiro Renan. O placar no Estádio Mohamed Bin Zayed marcava 2x0, aos 40 minutos do segundo tempo, para a frustração da torcida colorada e, podemos dizer, alegria da torcida gremista.

Bjorn Kuipers, o árbitro húngaro, apitou o final do espetáculo nove minutos depois, aos 49. E, o time congolês, que já havia comemorado, e muito, a já surpreendente vitória por 1x0 contra o Pachuca, do México, manteve alegria e comemorou ainda mais. O goleiro Kidiaba repetiu a sua (já característica) dança – e foi acompanhado por um dirigente da equipe, enquanto os outros jogadores corriam pelo campo e dançavam em frente à torcida africana presente. Kaluyituka, autor do segundo gol, tirou sua chuteira direita e não parava de mostrá-la para as câmeras do mundo inteiro.

Mais do que jogadores com cabelos “diferentes”, os africanos do Mazembe provaram para o mundo (para a alegria da FIFA) que não é só de Europa e América do Sul que vive o Mundial de Clubes. Contrariando o que este blogueiro escreveu ontem e o que quase o mundo todo pensava, o time africano pode ser o primeiro campeão não europeu ou sul-americano do Mundial. Agora, o Mazembe aguarda o vencedor de Internazionale de Milão e Yeongnam, da Coreia do Sul.


Não havia música saindo por nenhum dos alto-falantes do estádio de Abu Dhabi, em momento algum da partida entre Internacional e Mazembe. Não houve também regras, ou passos certos. O que se viu nos Emirados Árabes Unidos foi apenas uma prova de que não é impossível dançar sem música e de que não é preciso ser um bom dançarino para ter uma dança famosa. O Internacional que o diga.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Oito vezes campeões, ou não

Atenção, torcedor sãopaulino e flamenguista. Você, que se vangloria das conquistas de seu time, do hexacampeonato brasileiro, terá que tomar cuidado ao ver algum palmeirense ou santista na mesma roda de bar, de hoje em diante. Ou não.

A Confederação Brasileira de Futebol decidiu, hoje, no dia 13 de dezembro de 2010, unificar os títulos da Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa, competições nacionais realizadas de 1959 a 1970. Isso significa que o Fluminense ganhou dois títulos brasileiros em apenas um mês, o de 2010 e o de 1970. Ou não.

Rodrigo Paiva, o assessor de imprensa – e voz – da CBF pediu a todos que esperem. Seu chefe, o presidente da entidade – e do mundo – Ricardo Teixeira, está em viagem de negócios no momento, em Abu Dhabi, no Mundial de Clubes da FIFA. Afinal, a presença dele é imprescindível para o bom andamento do torneio nos Emirados Árabes Unidos.

Aliás, o Mundial só vale a partir de 2000. Será que um dia os outros títulos serão reconhecidos? Vale lembrar que, desde que a FIFA começou a reconhecer os títulos mundiais dos clubes, colocando todos os continentes na disputa, o campeão sempre foi (e dificilmente não será) um europeu ou um sul-americano.

Agora, só precisamos ter um pouco mais de paciência.Tudo depende do sinal de positivo, do “Ok” de Ricardo Teixeira. Basta ele voltar ao Brasil, ou fazer uma ligação para Rodrigo Paiva, dizendo “manda bala”, para que Santos e Palmeiras se tornem oito vezes campeões brasileiros. Ou não.

Imagine, por exemplo, um pai explicando a seu filho, que Pelé jamais foi campeão brasileiro, sendo que o Santos “conquistou” o Brasil seis vezes. Com razão, as torcidas de Santos e Palmeiras fazem a festa. Sem razão, as outras torcidas reclamam. Qual o problema de títulos conquistados em campo serem reconhecidos?

Aparentemente, tudo normal, já que não havia Superior Tribunal de Justiça Desportiva na época. Talvez o problema seja só o tempo. Afinal, demorou 40 anos para que a CBF olhasse para trás e visse que o futebol nacional já existia antes de 1971.

Acho que já éramos tricampeões do mundo em 1970. Ou não?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Feuer!

Fui ao Via Funchal nesta terça-feira, 30/11, na expectativa de ver duas coisas. Primeiro, o show dos malucos do Rammstein, obviamente. Em segundo lugar, eu queria ver fogo. O fogo que eles usam em seus shows, tão conhecidos por serem verdadeiros espetáculos pirotécnicos.

Criei uma expectativa enorme para ver os caras tocarem no Brasil quando assisti o DVD "Volkerball", mas senti uma certa insegurança, já que o Via Funchal é um lugar fechado. Pensei: "Esses caras vão só fazer um show, e pronto. Sem fogo." No entanto, para o bem da nação, eu me enganei em meus pensamentos e o Rammstein subiu ao palco munido de tudo o que usa em seus shows pela Europa.

O nome da banda foi entoado em incrível uníssono e altíssimo volume no refrão da primeira música, Rammlied (RAMM-STEIN!). Ouso dizer que não havia uma voz silenciada naquele momento e não havia um par de pernas estático no chão.

Muitos não entendiam uma palavra sequer das músicas cantadas em alemão, mas gritavam sem hesitar. "Sterben!", do refrão de Waidmanns Heil, é um exemplo. A música trouxe fogos de artifício e fumaça, muita fumaça - apenas uma prévia do que estava por vir.

Uma nuvem rapidamente tomou conta do Via Funchal, mas ninguém reclamou. Talvez estivesse um pouco difícil de se respirar, mas nada que tenha atrapalhado a diversão de todos nós, os fãs presentes. Fomos ainda mais ao delírio com a explosiva Feuer Frei, da trilha sonora do filme (não menos explosivo) Triplo X, que trouxe o tão desejado fogo à casa.

O único “descanso” para os fãs, foi durante a linda Frühling In Paris, que apresenta, em seu refrão, palavras da música “Non, je ne regrette rien”, da cantora francesa Edith Piaf. Foi uma recarga de baterias necessária, mas que não deixou ninguém se desanimar, até porque, na sequência, viria um dos momentos mais esperados da noite.

Mein Teil faz referência a um caso curioso e macabro de canibalismo ocorrido na Alemanha (clique aqui para saber mais, se tiver estômago forte - e não, não há imagens no link). Não por menos, o vocalista Till Lindemann se veste de açougueiro, com um avental sujo de sangue e um microfone com uma faca pendurada, enquanto o tecladista Flake é a vítima, literalmente assado num imenso caldeirão - mais fogo!

Flake, aliás, se mostrou um show à parte durante toda a apresentação da banda, dançando, correndo pelo palco e, obviamente, tocando seu teclado. Na música Haifisch, Flake subiu em um bote, que navegou por sobre o público, enquanto ele mesmo dava as direções e mostrava uma bandeira do Brasil, dada por um fã.

Os alemães, ótimos no palco, mostraram-se frios, e a primeira intervenção de Till com a plateia foi na histórica execução de Du Hast. "Más fuerte!", disse o vocalista, enquanto todos gritavam: "Du, Du Hast. Du Hast Mich", talvez até sem saber o que queriam dizer, novamente, mas sem se importar. A música foi marcada por mais fogo, e fogos de artifício passando por cima do público, por meio de uma corda pendurada no teto (nota do autor, que pulava feito um louco: sensacional!).

A polêmica Pussy merece um parágrafo à parte. A pornografia se aliou à empolgação e a preservativos inflados voando, caracterizando um momento único, digno de dizer "tirem as crianças da sala", quando o baterista Christopher Schneider subiu em sua cadeira empunhando um pênis de borracha, com fogos de artifício. No último refrão da música, uma chuva de papel picado encerrou o setlist do Rammstein antes do bis.

Sonne, Haifisch e Ich Will teoricamente terminariam o show, mas nós queríamos mais. Pelo menos mais uma música. "Te Quiero Puta!", "Te Quiero Puta!", era o coro. E o Rammstein voltou ao palco para um final inesquecível, cantando em espanhol. Till não teve muito trabalho em Te Quiero Puta, já que cantamos, e muito, durante a música inteira.

Pontualmente, à meia-noite, com letras em alemão, meio em inglês, meio em francês e até em espanhol, além de fogo - muito fogo - e fumaça - muita fumaça, o Rammstein deixou o palco, após se ajoelhar para o público paulistano, e dizer "muito obrigado, viva o Brasil!".

Seria o clichê dos clichês dizer que o Via Funchal pegou fogo, mas foi a mais pura verdade. E eu nem precisei entender o que os caras estavam falando...